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segunda-feira, 21 de março de 2016

Canto do Coach: Migração para o Fullpads

Depois de quatro edições na modalidade sem equipamentos, a Liga Fluminense de Futebol Americano se prepara para sua primeira edição fullpads! Nesse momento de significativo avanço, não só pra LiFFA como em muitos outros times pelo Brasil, é comum que os treinadores fiquem um pouco perdidos e ajam de forma relapsa por não entenderem que há uma mudança significativa em toda a dinâmica do jogo pela adição dos equipamentos e nesse post, eu pretendo te ajudar a facilitar esse processo de adaptação!

Migrar para o fullpads depois de algum tempo jogando flag football ou tackle sem equipamentos é um dos grandes objetivos de todos os times em nosso país. A busca por jogar o futebol americano “de verdade”, com contatos fortes e maior segurança são os principais fatores favoráveis ao fullpads, mas engana-se quem acha que a simples adição de um shoulder pads e do capacete tornam o jogo mais seguro... em alguns casos, fazem exatamente o oposto disso.



Eu entendo seus atletas, eu já estive no lugar deles! Você comprou seus equipamentos e está doido para entrar em campo, ouvir o barulho dos pads batendo e se sentir o Ray Lewis brasileiro, mas antes disso, é preciso aprender a usá-los para que o jogo seja seguro pra você e pro seu adversário!

Em primeiro lugar, é fundamental entender que o equipamento é uma proteção, não uma arma. Tenha isso em mente em todo momento e reforce ao máximo para seus atletas e companheiros de time! Mirar com a coroa do capacete e atacar a região da cabeça de um jogador indefeso são atitudes que podem gerar graves lesões, além de penalidades (e até ejeção) previstas em regra. O equipamento não transforma ninguém no Super-Homem, sua função é simplesmente diminuir o risco de uma grave lesão. Não à toa, todos os capacetes novos vêm com um aviso colado na parte de trás informando sobre isso, procure no seu!

Além disso, entenda que economizar grana aqui nem sempre é fazer um bom negócio. Dinheiro gasto em equipamento é um investimento em segurança, é melhor juntar por mais alguns meses para comprar um bom capacete do que comprar qualquer um na pressa, que talvez seja Youth, contenha peças incompatíveis com o modelo (facemasks e presilhas, principalmente), ou que não seja do seu tamanho. 

Por falar em tamanho, garanta que você está comprando seus equipamentos do tamanho certo e que eles estão devidamente presos e regulados para sua cabeça. Capacetes frouxos demais, apertados demais ou com a chinstrap solta são um perigo e é por isso que se deve evitar também a clássica máxima do "Me empresta seu capacete aí pra eu entrar rapidinho nesse drive!".

Veja como regular seu capacete da forma adequada:


Mas agora que já falamos dos equipamentos, o que falta? Efetivamente prender o que é um tackle seguro e como executá-lo! O tackle é o fundamento mais importante do futebol americano, todos os jogadores do seu time devem aprender a executá-lo, inclusive os do ataque (Muitas lesões graves acontecem depois de interceptações, Friday Night Lights não é tão ficção assim).

A “USA Football” há bastante tempo realiza a uma campanha chamada "Heads Up Football", onde faz vídeos instrucionais sobre práticas de tackle seguro. Logo aqui abaixo você pode encontrar o primeiro de cinco vídeos explicando os cinco passos para um tackle executado de forma efetiva e segura. Veja as cinco partes e recomende aos seus atletas e companheiros de time que façam o mesmo!



Seguindo os passos acima, não há muito mistério fazendo um tackle seguro. Os dois principais erros identificáveis num jogador recém-migrado para o fullpad são: a mania de abaixar a cabeça na hora do tackle (Lembre-se: Veja o que está batendo, nunca o chão) e achar que vai derrubar o adversário dando apenas uma ombrada, que nem muitas vezes vemos os jogadores fazendo na NFL e NCAA (Faça sempre o wrap, você não é o Ed Reed!)

No início da nossa migração para o fullpads, as quatro primeiras semanas de treino foram focadas quase que exclusivamente em adaptação ao equipamento, aos novos fundamentos, aprendizado das técnicas seguras... Por mais que este texto seja focado em auxiliar treinadores, também é importante que jogadores leiam e possam difundir as práticas seguras em seus treinos e até mesmo questionar seus treinadores perante atitudes imprudentes.

Parte do Front-Seven do Nova Friburgo Yetis depois de nosso primeiro jogo fullpad. Vitória sobre o GET Eagles por 32 a 3.
É obrigação de todo e qualquer treinador buscar preservar a integridade física de seus atletas. Numa boa, se seu treinador é daqueles que coloca Oklahoma Drill todo treino, inclui drills de contato sem qualquer instrução sobre segurança ou te desrespeita com xingamentos, ofensas, ameaças e ridicularização, saia do time! Em primeiro lugar, entenda que com esta postura ele é apenas alguém querendo aparecer e não é um técnico e, portanto, não deveria estar ocupando essa posição.

Como um último ponto, gostaria de ressaltar a importância da identificação e tratamento adequados para concussões. Fique atento à hidratação de seus atletas, monte seus treinos considerando condições climáticas (principalmente calor extremo e baixa umidade do ar), em hipótese alguma faça treinos mesclando atletas equipados e não-equipados e retire imediatamente qualquer atleta de treino ou jogo que apresente tontura, desmaie ou sinta fortes dores de cabeça. Caso seu time disponha de algum médico formado (ou um estudante de medicina) no elenco, peça-o para lhe instruir em casos de suspeita de concussão, e lhe ajudar, caso necessário. Lembre-se, prevenção é sempre o melhor remédio, principalmente num esporte amador.
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Bernardo Scofano é técnico principal do Nova Friburgo Yetis desde o final da temporada 2013. Atuou como Defensive Back pelo Botafogo F.A. nas temporadas de 2012 e 2013. Como técnico, foi campeão da LiFFA (2013) e do Serra Bowl I (2015), tendo sido eleito também "Melhor Treinador" da LiFFA em 2014.

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