Canto do Coach - Marcelo Arantes

Com a ideia de Bernardo Scofano, head coach do Nova Friburgo Yetis, abro espaço no Blog pros treinadores e coordenadores da LiFFA. Nas próximas semanas teremos mais textos e hoje quem inicia o quadro é Marcelo Arantes, coordenador defensivo do Volta Redonda Falcons, que até a terceira rodada do campeonato só sofreu uma média de nove pontos por jogo. Marcelo fez um texto sobre como montar um gameplan, veja:

"Gameplan é o plano de jogo traçado pelos técnicos para que os times tenham sucesso nas três fases - ataque, defesa e especialistas - da equipe em uma partida. O Plano de Jogo não é indispensável, mas times com bons planos têm boas chances contra adversários sem plano de jogo ou com o plano, digamos, “duvidoso”.

É claro que nossa experiência é bem pequena com relação a isso (no VR Falcons – tivemos até hoje 11 jogos), mas defensivamente estamos obtendo algum sucesso. Na minha opinião, não existe uma fórmula para se fazer um gameplan, mas alguns aspectos deveriam ser levados em consideração:

1 - Qual o objetivo do Time na partida? Como obter sucesso? Como vencer? Esse é o ponto principal e, normalmente, passa por responder questões, tais como: quais os pontos fortes e fracos do meu time? Conheço o time adversário? Quais os pontos fortes e fracos do adversário? Como maximizar os meus pontos fortes? Como explorar os pontos fracos dos adversários? Como casar os meus pontos fortes com os pontos fracos do adversário e etc.

2 - Considerar as fases (ataque, defesa e especialistas) como peças distintas de um mesmo quebra cabeças, ou seja, o planejamento distinto das fases deve levar ao objetivo do time na partida.

3 - Em cada fase pensar em questões e situações específicas, exemplos: as jogadas previstas para 1st&10  na linha de cinco jardas de defesa não são, necessariamente, as mesmas jogadas de 1st&10 na linha de cinco jardas ofensivas. O que se faz em quarta para uma jarda? O que se faz em terceira para 15 jardas? Como posicionar no onside kick? 

4 – Flexibilizar o plano para que seja possível mudar, caso o original não seja bom o suficiente para vencer, ou seja, ter um plano B na manga.

5 – Facilitar o entendimento dos atletas.

Só estes cinco aspectos dão 'pano pra manga' e um monte de noites sem dormir. Se não se conhece o adversário a coisa fica pior por que tem que se ter muita flexibilidade e, normalmente, isso dificulta o entendimento dos atletas.

Exemplo: Ao jogarmos o “Vale do Paraíba Bowl”, final do torneio de flag vencido pelo VR Falcons em 2013, contra o Taubaté Big Donkeys, verificamos que o bom QB dos Donkeys, Renan, era o jogador a ter suas ações minimizadas para que tivéssemos sucesso defensivo (em flag 8 x 8 não há tackles, mas pode haver contato na scrimmage e dentro das 5 jardas da linha da bola). Estudamos alguns vídeos que tínhamos do Renan e constatamos que o QB ao sair do pocket corria bem para os dois lados e lançava bem para o lado direito, para o lado esquerdo ele não lançava tão bem. Aqui temos uma pequena amostra do que vimos: Ações do QB Renan.

 

O Objetivo então era fechar o lado direito do QB e matar as corridas pela esquerda. O que fizemos foi inverter o lado do Douglas “Cachorro Louco” Torres, colocar um DT ao lado dele na nossa esquerda, e um LB para fechar aquele lado e, automaticamente, ter superioridade numérica. Do outro lado Eduardo e Vitor Leal revesaram de DE, apertando o pass rush, deixamos um gap para a corrida no lado esquerdo do QB que caía em cima do Daniel 'Sombra', LB, muito rápido e atlético. Desta forma a cada snap o QB via uma tropa vindo de sua direita, o Vitor/Eduardo vindo da esquerda: ou lançava rápido para a esquerda ou corria pelo gap que deixamos e caía no colo do 'Sombra'. A figura 1 apresenta parte das jogadas do Gameplan para a final, contra diversas formações de ataque apresentadas pelos Donkeys.

No ataque, responder perguntas como: que tipo de cobertura a defesa usa, como joga o front seven, como eles jogam contra a corrida, como eles jogam contra passe, é bem importante. Na defesa, responder perguntas como: qual é o sistema de jogo? A OL é sólida? Quais são os melhores recebedores? Como o time corre? Como o time passa?

É evidente que essa não é a única maneira de fazer um gameplan, mas até hoje obtivemos sucesso com ela. 

Espero que tenha ajudado e divirtam-se! "