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terça-feira, 28 de outubro de 2014

Canto do Coach - Bernardo Scofano

Na sua terceira semana, o Canto do Coach está sendo um sucesso. Hoje, o terceiro convidado é o idealizador do quadro e da LiFFA: Bernardo Scofano. O treinador passará seus conhecimentos sobre Linha Ofensiva, veja:
Yetis e Macaé Oilers, em Conceição de Macabu. (Foto:Tiago Bueno).
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Não é preciso ser um expert no futebol americano para saber a importância de ter um bom Quarterback, um bom corredor... Mas já parou pra pensar o quão importante é proteger estes jogadores? A Linha Ofensiva exerce um papel bastante ingrato neste esporte, seus jogadores raramente são reconhecidos quando fazem um bom trabalho, mas basta um snap errado ou um holding para que sejam duramente criticados. Faça um exercício mental, liste os cincos OLs titulares do seu time na NFL. Difícil, né?
Neste ano pude notar o quanto ainda há desconhecimento em relação à OL na LiFFA (e certamente em todos os campeonatos menores pelo Brasil) e o quanto isso prejudica os times, seja por faltas ou pela incapacidade de executar o esperado de maneira satisfatória. Neste artigo vou tentar abordar o básico sobre Linha Ofensiva para tentar ajudar os times e jogadores iniciantes.


Stance (Posicionamento)
Bruno Ceccon, Offensive Tackle do Yetis demonstrando a stance de dois pontos.
 Ao falarmos do posicionamento individual é preciso atentar-se aos seguintes pontos:
  • Pernas abertas na amplitude dos ombros ou pouco mais; Evitando sempre sair com as pernas muito fechadas ou muito abertas;
  •  Agachado, nunca abaixado! Posição agachada em cerca de noventa graus, como se estivesse sentado numa cadeira.
  • Coluna reta, dorso apontando pra frente. A coluna nunca deve estar arqueada, uma dica útil é pensar que as costas do jogador devem ficar como se alguém tivesse jogado um balde com água gelada.
  •  Sobre o posicionamento dos pés há muita variação. Particularmente, acho que a melhor forma de se ensinar é de que os pés devem estar paralelos (Ou o pé externo um pouco atrás), totalmente plantados no chão, mas com o peso distribuído fora do tornozelo.
  •  Seguindo os pontos acima, sair de dois ou três pontos fica a critério do conforto do jogador ou orientação do técnico.
Ao falarmos do posicionamento do grupo é preciso atentar-se aos seguintes pontos:

  • O Center deve ser o primeiro jogador a se posicionar na linha, uma vez que os demais jogadores devem se posicionar tendo-o como orientação. Os Guards devem se posicionar mantendo seus ombros na linha de cintura do Center, sobre pena de Infração de Zona Neutra.
  • Todos os jogadores devem se posicionar paralelos à linha. Nenhum jogador deve sair de lado, ou em diagonal, ou minimamente lateralizado que seja.
  •  Nos EUA é comum ver os Tackles se posicionando um pouco atrás dos Guards, mas já vi árbitros marcado que o OT não estaria na linha nestas situações. Para evitar problemas, coloque OG, OTs na mesma linha. O mesmo se aplica a TEs e deixe-os cerca de uma jarda atrás quando não estiverem posicionados na linha. 
Linha ofensiva do New York Jets. Note o alinhamento.
  •  Ao sinal de preparar dado pelo QB, os jogadores de linha devem realmente congelar. Movimentos de mão, gestos e provocações podem ser marcados como False Start, o melhor é não dar brecha.
  • Centers não devem levantar a bola do chão ao ajeitá-la para o snap, é permitido movimentá-la lateralmente apenas. Caso ela esteja molhada ou suja e seja necessário limpa-la, comunique ao árbitro e espere sua liberação para fazê-lo.
Desenvolvimento

O desenvolvimento das jogadas é distinto entre passes e corridas. Em jogadas de passe a OL deve funcionar formando um Pocket, isto é, formando uma espécie de semicírculo para proteger o lançador. Em chamadas de passe, a movimentação inicial da OL é “para trás”, um avanço além da linha de scrimmage resultaria em uma falta por jogador inelegível em campo profundo.
Jogadores de Texas A&M, time universitário, formando um pocket
Em jogadas de corrida, porém, a linha ofensiva ataca os defensores. Sua movimentação inicial é para frente, buscando abrir os espaços para o corredor, seja pelo meio da linha ou pelos espaços externos. Enquanto nos passes o objetivo primário é impedir que o defensor passe e chegue ao QB, nas jogadas de corrida o papel da OL é realmente empurrar os defensores.

Linha Ofensiva do Buffalo Bills tentando abrir espaço para a corrida.
Existem conceitos mais complexos, como Pulls, Zone Blocking Schemes e Screens que podem e devem ser estudados por aqueles que já possuem certo domínio dos conceitos básicos.

Dicas Gerais:
  •           Pense em seu corpo como uma mola. Quanto mais espremida ela está, maior é sua energia acumulada e mais forte será seu “impulso” para voltar ao estado natural. Se o contato do jogador é feito com os braços e pernas totalmente esticados, este é um bloqueio (ou tackle) fraco e inefetivo.
  •            A mentalidade de que a linha ofensiva é espaço para gordos deve ser abandonada, assim como o pensamento entre jogadores de linha de que não precisam malhar, cuidar de seu físico ou sequer estudar.  Exemplos próximos como Anselmo Brauer e Rafael Menezes nos mostram que é preciso ser muito mais do que “gordo” para ser um bom jogador de linha ofensiva.
Jogadores da Linha Ofensiva do Brasil após o amistoso contra o Uruguai.
  • Leia, entenda e compartilhe seus conhecimentos sobre o livro de regras com seus companheiros de time. Muitos jogadores não entendem o conceito de Holding, por exemplo, e pecam nos dois extremos: Enquanto uns acham que é proibido segurar a camisa em qualquer ocasião, outros acham que é permitido puxar o OL pelo chão ou puxar sua camisa depois que este passou.
  • Jogadores de linha ofensiva devem preferencialmente usar numeração de camisas entre 50 e 79. Por regras da IFAF (amplamente usadas no Brasil), estes números qualificam um jogador como inelegível e poupa tempo, uma vez que jogadores inelegíveis usando números além destes devem ser anunciados sob pena de falta por formação ilegal.
Espero ter contribuído com um entendimento básico sobre Linha Ofensiva. Há significativo material didático mais complexo em diversos sites e deve partir dos jogadores e coaches a iniciativa de buscar e estudar estes documentos.
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Bernardo Scofano é Head Coach do Nova Friburgo Yetis, tendo sido Campeão da LiFFA 2013. Como jogador, atuou por duas temporadas como Defensive Back no Botafogo F.A., foi convidado para o projeto da LFA pelo Rio Atlântico como agente livre não-draftado, convocado para o Projeto da Seleção Carioca de 2014 como Free Safety, Indicado a melhor Safety do Torneio Touchdown 2014. No extra-campo, foi presidente do Nova Friburgo Yetis entre 2009 e 2011, um dos idealizadores do projeto da Liga Fluminense de Futebol Americano.

Bernardo Scofano instruindo seus atletas na final da LiFFA em 2013 (foto: Jéssica Santos)
 


 

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